Onde Estou Agora?

Onde Estou Agora?

Se você fosse fazer essa viagem, que meio de transporte utilizaria?

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Dicas da Estrada Real para Futuros Viajantes

A idéia é passar dicas a respeito daquilo que vivi percorrendo a Estrada Real de bicicleta e de outras experiências do gênero para ajudar no planejamento de futuros viajantes. Dicas Gerais: 1- É importante estar preparado fisicamente para a viagem. Treine pelo menos 3 dias por semana no período de 45 dias antes da viagem. Isso é importante para identificar os próprios limites de ritmo e intensidade do exercício, possibilitando o planejamento ideal da viagem. Pode ser qualquer distância, o importante é pedalar e ganhar ritmo e motivação. 2- Simulados de longa duração durante o final de semana devem ser feitos pelo menos 2 vezes antes do início da viagem, considerando as mesmas condições que serão enfrentadas, como por exemplo alforje/bagagem, capacete, sol/chuva, roupa e acessórios. Isso permitirá identificar a distância ideal a ser percorrida durante a viagem e comprovar o conforto/eficácia das roupas e acessórios que serão utilizados. 3- Caso tenha condições, compre o “Guia da Estrada Real” publicado pelo Instituto Estrada Real. Este guia tem descrições turísticas/culturais das cidades e distritos que compõe o percurso além de um mapa com detalhamento razoável de cada um dos trechos. Informações adicionais confiáveis também podem ser obtidas no site http://www.estradareal.org.br/. 4- Se for percorrer qualquer trecho que não faça parte da Estrada Real “oficial”, ou seja, os caminhos demarcados, leve a carta topográfica desse trecho específico e tenha noções básicas de orientação com bússola. Isso poderá evitar muitos problemas e tornar o percurso mais seguro. É possível fazer download de cartas topográficas no endereço ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas/topograficos/topo50/pdf do IBGE. Dicas para Cicloturismo: 1- Escolha sempre uma bicicleta adaptada ao tipo de terreno que irá percorrer. Dê preferência sempre pela mountain-bike que pode ser utilizada em qualquer estrada e até mesmo em trilhas. Percorri a estrada real com uma bicicleta Sundown Team-5000, com câmbio dianteiro e traseiro Shimano Deore e freio V-break. É uma configuração bastante adequada ao cicloturismo. 2- Considero o odômetro ou ciclocomputador um acessório essencial para uma viagem como essa. Com ele é possível verificar se a quantidade de água e alimento será suficiente para completar o trecho além de confirmar continuamente o caminho através de marcos intermediários identificados no mapa pela distância. É um acessório que traz muita segurança. 3- Caso tenha freio tipo V-break, sugiro adquirir sapatas Kool-Stop. São mais caras que as normais, mas duram muito mais (em minha experiência de 20 a 30 vezes mais). Em viagens como essa, um bom freio é fundamental principalmente pelo fato de termos mais peso na bicicleta, devido a bagagem. 4- Fita anti-furo também é recomendável. Essas fitas rígidas são instaladas facilmente entre o pneu e a câmara evitando furos. Como exemplo, em aproximadamente 1.000Km de estradas de terra, tive somente uma câmara furada. 5- Sempre que possível lave a bike no final do dia e posteriormente utilize lubrificante (tipo WD-40), principalmente após trechos de lama. A parte realmente importante a ser lavada e lubrificada é a corrente e câmbio. 6- Faça uma revisão completa da bike antes da viagem. Aproveite e peça ao mecânico ou loja especializada dicas básicas para ajuste de freio e câmbio além de troca de pneus e correntes. Noções básicas de mecânica são muito importantes para o sucesso da viagem, principalmente para longas distâncias. Dicas de Nutrição: 1- No planejamento de cada um dos trechos considere um consumo médio de 500ml de água por hora de exercício. 2- Durante o pedal, coma a cada uma hora e meia alimentos ricos em carboidratos (pão, bolacha, barra de cereal, gel de carboidrato) e evite leite e alimentos gordurosos. É importante se alimentar juntamente com a hidratação. 3- Se sua viagem terá mais de quatro dias é conveniente ingerir poli-vitamínico (por exemplo um comprimido de Centrum, Dayvit, etc... por dia). Isso porque o gasto calórico durante esse período é muito elevado e a alimentação geralmente fica prejudicada pelas horas sobre a bike. 4- Comprimidos de BCAA (aminoácido de cadeia ramificada) após o exercício ajuda a recuperação muscular. Durante minha viagem consumi dois comprimidos de BCAA todos os dias logo após o exercício. Grande abraço. Em breve divulgarei dicas simples e objetivas por trecho do percurso que poderão contribuir com o planejamento de futuros viajantes.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Mensagem Final

A enquete colocada no blog tinha como principal objetivo fazer as pessoas pensarem sobre a possibilidade de percorrer um dia a Estrada Real, seja de carro, moto ou qualquer outro meio de transporte. Saber que muitos responderam a pergunta já é uma grande recompensa pra mim, pois consegui indiretamente fazer as pessoas refletirem um pouco a respeito.

A idéia original do blog era avisar minha família onde eu estava. Depois acabei inserindo o resumo sobre a Estrada Real com o intuito de propagar a existência dessa parte da história do Brasil para a maior quantidade de pessoas possível. Hoje penso como um histórico a mais sobre esse trajeto.

Espero que essas histórias inspirem novos aventureiros a conhecer os encantos da Estrada Real. De qualquer forma, sempre me preocupei em deixar dicas relevantes sobre cada um dos trechos para ajudar no planejamento de futuras viagens. Nos próximos dias colocarei uma postagem específica de dicas, englobando relatos técnicos importantes de cada trecho, sugestões de caráter geral e específico, como planejamento de hidratação e alimentação que utilizava, acessórios importantes para a bike entre outras coisas. Portanto, usem essas dicas no próprio planejamento e dêem bastante atenção às coisas mais óbvias. O sucesso de uma expedição está sempre nos detalhes.

Esse tipo de viagem em solitário traz um auto-conhecimento que nenhuma terapia ou psicólogo pode trazer por dinheiro nenhum no mundo. Estar solitário em situações de desgaste físico e mental ressalta nossos principais defeitos e qualidades de forma espantosa. Precisar dos outros para ter onde dormir, comer muitas vezes o que estiver disponível e não o que escolhemos comer são exemplos claros de situações que estamos expostos dia após dia. Nesses momentos reagimos da forma mais pura e transparente que existe. Se tivermos um pouco de percepção e estivermos abertos ao crescimento pessoal conseguimos agregar muito a nós mesmos como seres humanos.

Essa interação através do blog é muito bacana, principalmente quando se está viajando sozinho. É interessante saber durante o percurso o que as pessoas estão achando daquilo que você está vivendo. Nunca tinha pensado em criar um antes da viagem, mas hoje afirmo que foi muito positivo.

Estão esperando o quê? Coloquem a mochila nas costas e experimentem viver a própria aventura e ter um monte de histórias pra contar...

Agradecimentos

Gostaria de aproveitar para agradecer algumas pessoas que foram importantes para o sucesso dessa viagem:

  • Minha família, por ter acreditado, apoiado e batido recorde nos comentários do blog... hehe;
  • Comunidades locais de todas as cidades que passei por terem me acolhido de forma tão especial e solícita;
  • Pessoal da RincosBike de Jundiaí (www.rincosbike.com.br) pela revisão e ajuda fundamental com a poderosa ;
  • Amigos que me deram força antes da viagem, pelo blog, celular...
Obrigado!

Os Top 10 do Caminho Velho

Destaco os pontos mais marcantes do Caminho Velho, trecho da Estrada Real que interliga as cidades de Ouro Preto à Paraty:

Melhor Momento: Chegada em Lorena Pior Momento: Lama e mais lama entre Carrancas e Cruzília Melhor Comida: Feijão Tropeiro Melhor Pousada: Pousada das Candeias em Carrancas – MG Melhor Vista: Baía da Ilha Grande Melhor Cidade: Ouro Branco Maior Personagem: Ronaldinho, guia de São João del Rei Melhor Trecho para Pedalar: Entre São Sebastião da Vitória e Carrancas Melhores Dicas para Cicloturistas: Fiquem muito atentos aos marcos da Estrada Real, muitos deles estão escondidos atrás de mato crescido. Momento mais Engraçado: Gritos na balsa entre Caquende e Capela do Saco

A Aventura Chega ao Fim

Trecho: Lorena – Paraty Distância: 116Km Subidas: 670m

Hoje iniciei o pedal com sentimento de despedida... tantas coisas aconteceram nesses dias, vi coisas fantásticas que só uma viagem como essa pode proporcionar. Confesso que as primeiras pedaladas foram difíceis, um pouco pelo cansaço acumulado mas principalmente por ser o último dia, o encerramento daquilo que começou meses atrás.

O grande significado da viagem pra mim nunca foi completar a Estrada Real. Sempre pensei em percorrer essa estrada repleta de história, vivenciar tudo o que ela poderia me oferecer, aprender com os outros e crescer como ser humano. Posso afirmar que tudo isso ela me trouxe. Mas terminar era algo do qual eu ainda não tinha parado pra pensar. Pode parecer engraçado mas dormi os últimos dias da minha vida planejando o próximo. A única certeza que tinha era que queria chegar ao outro extremo do trecho mas não fazia a mínima noção de como isso aconteceria. Não sabia quem encontraria, como estaria o tempo, se conseguiria completar o planejado ... tudo era incerto. Hoje tive de volta a sensação do certo, do esperado.

Até a cidade de Cunha longas subidas tomaram conta do percurso. Já tinha feito o percurso até Paraty outras vezes então tinha boa noção de dificuldade e ritmo que deveria seguir. O trecho mais complicado é entre a cidade de Cunha e a Divisa dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Subidas longas, pernas já cansadas e muito, muito sol. O dia mais quente de toda a viagem. Tomei dois litros de água em 30Km de pedaladas de tanto calor que fazia. Até que vi a placa de sinalização da divisa (foto ao lado). Daí em diante, só downhill. O melhor disparado da Estrada Real. O trecho de descida é de terra e tava muito molhado, o que deu mais emoção ainda. Cada quilômetro pra baixo, um quilômetro a menos do total.

No meio da descida olho pra frente e não podia acreditar... a baía da Ilha Grande inteira, limpa, do meio da Serra da Bocaina podia ver tudo. Foi a melhor vista de toda a viagem... e justo no último dia!!! Tinha até me esquecido como é bonito o trecho entre Cunha e Paraty!!!

Após muitas “quase-quedas” chegou o asfalto e a viagem entrava em contagem regressiva. Foram as pedaladas mais duras até aqui... as pedaladas da despedida. Diminuí o ritmo só pra poder atrasar um pouco... hehe... mas ela chegou, como tudo a viagem também teve seu fim. Pedi pra um local que passava de bicicleta pra tirar a última foto da viagem (ao lado).

Foi algo inesquecível pra mim e garanto que vocês vão se cansar de ouvir histórias da Estrada Real nos próximos meses... hehe...

Agradecerei sempre por tudo ter dado tão certo como aconteceu.

Até a próxima!!!

Espero que aproveitem esse relato para construírem suas próprias aventuras e dividirmos histórias juntos.

Qualquer dúvida, pedido, dica ou crítica por favor enviar e-mail para lmtoledo_lorena@yahoo.com. Terei enorme satisfação em compartilhar meus aprendizados e ouvir críticas e sugestões.

Grande abraço / Inté

O Bom (?? hehe) Filho a Casa Torna!!!

Trecho: Itanhandu - Lorena Distância: 79Km Subidas: 300m

Resolvi dar uma descansada maior e acabei saindo mais tarde de Itanhandu, já que esse trecho seria o primeiro até o momento com predomínio de descidas, o que consequentemente eleva a velocidade média do percurso.

Saindo de Itanhandu, peguei uma estrada de terra para Passa Quatro que margeia a estrada principal de asfalto entre as duas cidades. Estrada batida e tranqüila, com poucas subidas. Chegando em Passa Quatro, atravessei a cidade e tomei um caminho de terra com uma subida longa no início e uns 8Km de sobe e desce até a divisa dos estados de Minas Gerais e São Paulo (foto ao lado), onde inicie o trecho de descida da famosa Garganta do Embaú. Esse trecho de planalto era bastante temido no ciclo do ouro, já que era muito cansativo tanto na subida como na descida para os bandeirantes e seus animais de tropa. Da divisa dos estados até a Vila de Embaú (cidade de Cruzeiro) refiz uma trilha aberta pelo índios Guaianás, descoberta em 1560 por Brás Cubas. A trilha vai zigue-zagueando a Serra da Mantiqueira por 12Km, com uma vista panorâmica incrível do Vale do Paraíba. Sem dúvida foi um dos trechos mais bonitos de toda a viagem, ainda mais por saber que em alguns quilômetros estaria com a minha família. Da Vila de Embaú segui para a cidade de Cachoeira Paulista e 15Km depois estava em Lorena.

É muito bom rever a família depois de tanto tempo longe e com tantas histórias arquivadas. Sem contar que comida de mãe não tem igual no mundo, ainda mais depois de quase 80Km pedalados... hehe...

Inté!

Ita ... o quê?

Trecho: Cruzília – Itanhandu Distância: 94Km Subidas: 770m

Era 6AM quando o sino da Igreja Matriz de Cruzília tocou literalmente do lado da minha cama... meu quarto era no primeiro andar da pousada, que ficava ao lado da igreja... hehe... tava me sentindo meio cansado da lama do dia anterior mas depois de comer uns 20 pães de queijo no café da manhã a motivação voltou...

Saí de Cruzília as 7AM com a missão de antecipar um dia a minha viagem e chegar em Lorena no domingo, quando toda a família estaria em casa. Para isso teria que pedalar 40Km a mais que o planejado para o dia, já que em princípio iria parar em Pouso Alto.

O dia ajudou muito. Fez sol na maior parte do dia e chuviscou pouco. Quase todo o percurso foi um sobe e desce de morros que compõe a Serra da Mantiqueira. Lindas paisagens com florestas de araucárias e muita mata preservada, sempre cruzando nascentes e cachoeiras. Foi um trecho tranqüilo de pedalar. Quando cheguei em Pouso Alto fiquei com bastante vontade ficar por lá pra falar a verdade, mas tava me sentindo bem e queria muito chegar em Itanhandu naquele mesmo dia. Então respirei fundo e pedalei tudo que podia. Os 5Km finais foram sofridos mas como sempre dizia pra mim mesmo durante a viagem “uma hora tenho que chegar!” e no meio da tarde aconteceu... hehe... cheguei em Itanhandu. Comi uma bela truta e já me senti renovado de novo, pronto para o dia seguinte.

É engraçado como o nosso organismo se adapta rápido a rotinas tão diferentes. Normalmente faço atividade física pela manhã, tomo café, vou trabalhar, almoço e janto. Há duas semanas tenho uma rotina totalmente diferente, com atividade física quase o dia todo e duas refeições completas (café e jantar). Mesmo assim, noto que o meu corpo já se acostumou a essa nova realidade e imediatamente após terminar o pedal começo a comer tudo que vejo sem parar até ir dormir... além disso a digestão dos alimentos ocorre muito mais rápido do que antes. Minha adaptação foi tão boa que emagreci muito pouco durante a viagem e não tive dores musculares nenhum dia, o que é raro depois de tanto tempo. Nessa viagem aprendi que planejar a alimentação e hidratação é muito mais importante que o roteiro em si. Com boa situação física somos capazes de suportar trechos mais longos e duros com uma recuperação muito mais rápida, o que é fundamental para uma expedição desse porte.

Grande abraço!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Quem nasce em Carrancas é Carrancudo?

Trecho: Carrancas - Cruzília Distância: 66Km Subidas: 1030m Comecei o dia com essa pergunta pro dono da pousada... e o rapaz não gostou muito não... hehe... e fingiu que nem ouviu... hehe... já que meu dia ia ser duro... Comecei o dia sabendo que ia pedalar numa área deserta, durante mais de 60Km. Dei a primeira pedalada e quem chegou? A chuva... e como chegou!!! Hoje foram 55Km pedalando no meio da lama (foto ao lado). Muito duro pra mim e pra poderosa... mas o trecho sem lama deve ser muito bom de pedalar... Hoje acabaram os mata-ciclistas e voltaram a ser mata-burros (pra mim não adiantou muito... hehe). Downhills perigosos pela quantidade de lama... num deles a poderosa ficou e eu fui... fazer o que, caí de bunda no meio da lama... o primeiro tombo da trip, por sorte nada de mais comigo e nem com a bike. No meio do caminho passei por uma fazenda fundada em 1812 (foto ao lado) chamada Traituba, muito bonita. Após a fazenda, mais 36Km e estava em Cruzília. Cidade até que com tamanho razoável e estrutura também. Hoje entrei na penúltima etapa, na Serra da Mantiqueira. Faltam 4 dias de pedal até Paraty. Torçam pra continuar tudo bem comigo e com a poderosa para podermos terminar essa aventura!!! Amanhã sigo para Pouso Alto. Continuem enviando comentários nesse final que já entramos na última etapa!!! Inté!!!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Na Cruz das Almas

Trecho: São João del Rei - Carrancas Distância: 81Km Subidas: 1080m Esse foi o melhor trecho pra pedalar até agora. Estradas de terra batida, quase nada nem ninguém. Saí de São João del Rei e fui pra São Sebastião da Vitória, 25Km bem tranquilos de subidas. Depois disso, mudei a direção para o sul, indo para o distrito de Caquende, que fica à beira da Represa de Camargos. Esse pedaço foi muito bonito, entre serras que pareciam um mar de morros. Entretanto, existiram dois grandes problemas nesse trecho: o primeiro são os cachorros daqui, que foram treinados pela SWAT pra morder panturrilha de ciclista. Caramba, os cachorros daqui são bons nisso... me viam de longe e já começavam a latir prontos pra morder... outros eram mais espertos ainda e ficavam quietos esperando e quando eu passava começava a correria... minha e deles... mas sorte que consegui escapar de todas as tocaias... hehe.. o segundo foram os mata-burros, ou melhor, mata-ciclistas. Esses foram projetados por alguém que odeia bicicleta com certeza. Ao invés de serem perpendiculares à pista eles são paralelos e na distância perfeita pra encaixar um pneu de bike... caramba... sempre freiava em cima e uma hora quase que o inventor consegui e quase voei uns metros por cima da bike... foi por pouco... Mas o melhor do dia estava para acontecer. Quando cheguei em Caquende (nome originado de cá-aquém-de) fiquei todo animado pela paisagem da represa. Depois de um tempo caiu a ficha: e agora pra atravessar? Será que tem balsa? Sai pra perguntar e um cara falou que só tem 2 horários certos, 7:30 e 16:30 e era 13:00hs. Já fiquei preocupado porque ainda tinha mais 30Km pra fazer. Depois de muita insistência ele falou que tinha outro jeito, ficar esguelando por "Vadinho" e "Chico" na margem pra tentar acordar os meninos... e foi o que fiz... fiquei 20 minutos gritando igual um doido... todo mundo que passava dava gargalhada... depois dos 20 minutos começou a chuver muito, e nada dos fdp´s... quando virei as costas pra voltar pra praça, resolvi gritar mais uma vez... e não é que o Chico acordou!!! Mais 30 minutos e estava em Capela do Saco, do outro lado da margem. Aí foi só pedalar mais 20Km escalar literalmente a Serra de Carrancas no meio de uma tempestade com muitos raios nos últimos 10Km. Quando cheguei na pousada fiquei sabendo que a Serra é apelidada de Cruz das Almas, porque desde a época do Brasil Colônia morria gente de raio no topo... hehe... fazer o que? Já tinha passado mesmo... Grande abraço

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Chegando as Terras del Rei

Trecho: Lagoa Dourada - Tiradentes - São João del Rei Distância: 54Km Subidas: 600m Saí cedo de Lagoa Dourada com destino a São João del Rei. A idéia era ir pra cidade de Prados e depois Bichinho, junto com um ciclista que encontrei. O cara é de BH e tá levantando informações para fazer um documentário sobre os caminhos de contrabandos que eram usados paralelamente à Estrada Real. Fui até Prados, segui pra Bichinho, uma cidade alternativa que tem até uma comunidade de Permacultura... hehe... Cultura Permanente que visa o comércio justo, sustentabilidade, etc... Depois de 16Km de Prados cheguei em Tiradentes. A cidade é muito legal porque sofreu um fenômeno raro, o decrescimento. Após seu auge no ciclo do ouro a cidade perdeu importância e hoje tem em torno de 6000 habitantes. Em contrapartida, seus casarões foram muito preservados e é possível se sentir na época do Brasil colônia. Saindo de lá, cheguei em São João del Rei. Contratei um guia, o Ronaldinho hehe..., que me mostrou todos os pontos turísticos daqui. Foi muito, muito legal, valeu muito a pena e custou R$15,00. Os guias tem detalhes em todas as obras que a gente nunca iria imaginar, por mais atentos que possamos ser. Pra se ter uma idéia, quando olhamos a portada da igreja de São Francisco de Assis do lado de fora, vemos o semblante de Jesus esculpido em pedra-sabão bastante sério e preocupado. Quando entramos na igreja e olhamos de novo, vemos Jesus sorrindo... impressionante o talento do Aleijadinho. Visitei também a Matriz de Nossa Senhora do Pilar, a 4a igreja com maior quantidade de ouro do Brasil e também a Estação Ferroviária. Tá muito legal. Grande abraço.

No Labirinto de Lagoa Dourada

Trecho: Ouro Branco - Lagoa Dourada Distância: 96Km Subidas: 1460m Ouro Branco fica no início do Caminho Novo da Estrada Real, aquele que eu não vou fazer (hehe) e que tem como destino o Rio de Janeiro. Decidi passar por aqui por 3 motivos: estar adiantado em relação a programação original, visitar a casa de Tiradentes e conhecer as igrejas que ainda preservam obras do Aleijadinho. Sabia que sairia do traçado original e que teria que voltar no outro dia 26Km para iniciar o Caminho Velho, mas estava disposto e não sabia muito bem o porquê. Cheguei em Ouro Branco e fui recebido muito bem pelo seu Jaci, dono da pousada Estrada Real (original!!!). Saí pra conhecer as peças de Aleijadinho espalhadas por toda a cidade e igrejas e cada vez mais fico impressionado com as obras dele. Por acaso, passando pela rua ouvi um barulho de banda e resolvi dar uma espiada. Pra minha surpresa é um projeto social chamado Orquestra dos Meninos de Ouro Branco, que ensina música clássica para crianças carentes da cidade. Fantástico o trabalho, fiquei realmente muito feliz por conhecer aquilo e eles até tocaram uma música pra mim que ia ser apresentada só no sábado pra cidade... trabalho de país desenvolvido sendo que ainda estamos longe de chegarmos lá... Fui visitar a Casa de Tiradentes (foto ao lado - amanhã coloco a foto que daqui não dá), que fica 3Km distante do centro. Peguei a poderosa e fomos lá. A casa foi o local que abrigou as principais reuniões dos Inconfidentes. Quase todo o movimento foi definido alí. O trecho onde fica a casa era conhecido como Deus-te-livre, pois era a parte da Estrada Real com maior número de assaltos... No outro dia, aprontei tudo e saí com ânimo pra voltar quase em Ouro Preto e iniciar o caminho velho. No trecho em que peguei uma estrada de interligação entre os dois caminhos, não tinha sinalização, por não fazer parte da Estrada Real. Era um trecho de terra e tive que usar carta topográfica e bússula o tempo todo pra não me perder... foi complicado mas 26Km depois já estava no Caminho Velho. Foi um dia rural, literalmente. Passei o dia entre fazendas centenárias, freiando em cima de filas de vacas no meio de downhills ou passando por armadilhas (especialmente pra mim!!!) que são os mata-burros.... passei por uns 50 mata-burros durante o dia todo... tinha que freiar em todos eles e isso atrapalhou bastante porque reduzia muito a média de velocidade que vinha fazendo. Como sempre, esse dia também teve um episódio engraçado...uma hora parei de ver os marcos da Estrada Real... passei umas 2 horas sem ver nenhum... comecei a ficar desconfiado que tava errado. Pra ajudar a estrada foi afunilando até virar uma trilha no meio do mato... tinha certeza que estava errado, perdido e com pouca água... de repente vi de longe uma casinha e corri pra perguntar como chegaria à cidade de Casa Grande. Cheguei na porteira e nem pensei, abri, passei a bike e quando tava fechando, olhei pra trás... meus amigos... que susto... 2 novos colegas me olhando... um touro com 1m de chifre e seu filho mais novo, um fila do tamanho de um bezerro... um rosnando e o outro bufando... pqp!!!... não sabia o que fazer... fui bastante corajoso... joguei a poderosa no chão e escalei a porteira em 2 segundos... e fiquei lá, com o fila tentando me morder e o touro raspando a pata no chão e quase pisando em cima da poderosa... juro que fiquei quase 5 minutos assim... até que chegou o dono a casa que se espantou com os latidos do cachorro lazarento... aí sim... ele tranco o chifrudo e o esfomeado e me falou que estava a apenas 1Km da ciadade... hehe... acabei economizando 5Km e nem imagino como... apesar do susto valeu a pena. O trecho entre Casa Grande e Lagoa Dourada é muito confuso. Precisei ficar muito atento o tempo todo pra não errar e mesmo assim andei 4Km na direção errada, totalizando 8Km a mais que o previsto. Se não fosse a bússola teria errado por mais... Cheguei em Lagoa Dourada tarde... mas descobri que é a cidade mundial do Rocambole!!! Comi de todos os sabores possíveis e imagináveis e apaguei as 9pm. Forte abraço.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

De Ouro Preto ao Branco em alguns Quilômetros

Trecho: Ouro Preto - Ouro Branco Distância: 57Km Subidas: 1000m Saí com destino certo: escalar o Morro do Itacolomy e a Serra de Ouro Branco, que liga as duas cidades. Só como curiosidade, a denominação das duas cidades se deve ao seguinte fato: o ouro encontrado nas minas de Ouro Preto era revestido de minério de ferro, de cor escura, enquanto que o encontrado nas minas de Ouro Branco era revestido de quartzo, de cor clara. Mais simples do que imaginava... Entrei no parque do Itacolomy, passei ao lado do pico de 1790m de altitude e pude avistar toda a cidade de Ouro Preto... fantástico... Logo após percorri um longo downhill com destino a Serra de Ouro Branco. O percurso é de tirar o fôlego, pelas vistas e pelas subidas. Passei pelos povoados de Lavras Novas, Chapada e Itatiaia até chegar em Ouro Branco, onde estou agora... Vou sair pra conhecer a cidade agora e sigo amanhã com destino a Lagoa Dourada. Abraço forte e valeu pelos comentários...

As Top 10 do Caminho dos Diamantes

Decidi destacar os pontos mais marcantes do Caminho dos Diamantes, trecho da Estrada Real que interliga as cidades de Diamantina à Ouro Preto: Melhor Momento: chegada em Ouro Preto Pior Momento: subidas intermináveis no caminho para Itambé do Mato Dentro Melhor Comida: frango com quiabo Melhor Pousada: pousada Estalagem em Diamantina Melhor Vista: Vale do Travessão -Serra do Cipó Maiores Personagens: Dona Ica (salve, salve!!!) e a Poderosa Melhor Cidade: Ouro Preto Melhor Trecho para Pedalar: entre Itambé do Mato Dentro e Bom Jesus do Amparo Melhores Dicas para Cicloturistas: treinem subidas e levem muita água Momento mais Engraçado: recepção de astro pop pelas crianças de Itapanhoacanga Que venha o Caminho Velho!!!

Chegando em Vila Rica

Trecho: Catas Altas - Ouro Preto
Distância: 73Km
Subidas: 1200m
Confesso que estava bastante ansioso pra sair no último sábado. O percurso me levaria a cidade mais importante do ciclo do ouro, Vila Rica, ou como é chamada hoje em dia Ouro Preto.
Ouro Preto foi a cidade mais importante de toda a América no século XIII, sendo mais populosa que Nova York. Toda a vida social, política e mineira se concentrava lá. É o ponto de intersecção de todos os caminhos do ouro, destino principal de escravos, tropeiros, portugueses, ...
O trecho era relativamente longo nesse dia, então tratei de arrumar minhas coisas logo e saí o mais cedo que consegui. Passei pelos povoados de Morro d´Água Quente, Santa Rita Durão, Bento Rodrigues, Camargos e cheguei a Mariana, antiga capital do estado de Minas Gerais. Chegando em Mariana, pela primeira vez desde o início da viagem revivi ares de cidade grande... trânsito, semáforos, muita gente nas ruas... confesso que senti saudade dos povoados dos dias anteriores...
De Mariana, deveria pedalar mais 12Km até meu destino. Fui pego de surpresa... foram 10Km subindo até Ouro Preto... já estava ficando cansado quando finalmente avistei a cidade... um verdadeiro mar de morros... mas lá estava a antiga Vila Rica... pedalei mais uns 2Km até a praça Tiradentes, onde a cabeça do inconfidente Tiradentes ficou à mostra durante vários dias após sua morte.
Dessa forma concluí a primeira parte dessa viagem: percorri todo o Caminho dos Diamantes, marco por marco do trecho que interliga Diamantina à Ouro Preto. Foi uma sensação realmente muito boa...
Tomei banho e saí da pousada como um turista qualquer, padrão japonês, que tira foto de tudo, entra em qualquer museu, igreja e não pára de rir ... hehe Igrejas não faltaram e o melhor de tudo foi perceber o tamanho da minha ignorância com relação a essa história tão rica do Brasil colonial. Cada detalhe, cada esquina, prédio, tudo tem um significado simbólico. O estilo barroco impressiona pela quantidade de detalhes... cada uma das 13 igrejas da cidade demorou em média 50 anos para ser construída. Claro que foram construídas por escravos e financiadas pelas Irmandades, sendo que existiam várias dessas, como por exemplo a Irmandade dos portugueses, intendentes, escravos, etc... por isso as igrejas são tão bonitas por aqui, já que as Irmandades disputavam entre elas para contruir a igreja mais perfeita da cidade.
Além de igrejas e museus, visitei também a Mina de Chico Rei, que foi explorada sob segredo pelo negro Chico Rei que com isso conseguiu comprar sua liberdade, da sua família e se tornar um dos homens mais ricos de Ouro Preto. (foto ao lado)
É um descaso grande não conhecermos uma cidade como Ouro Preto. Aprendi em 2 dias o que não absorvi em vários anos de estudo.
Ouro Preto foi o ponto alto da viagem até agora.
Grande abraço.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O Caraça é do Cara...mba

Trecho: Ipoema - Catas Altas Distância: 77Km Subidas: 1000m Após tomar o café da Dona Ica, parti hoje com destino a cidade de Catas Altas. O trecho que tinha me proposto a percorrer era longo, passava pelas cidades de Bom Jesus do Amparo, Cocais (distrito), Barão de Cocais, Santa Bárbara até chegar na desconhecida (pelo menos pra mim) Catas Altas. Até Bom Jesus do Amparo foi o treho mais tranquilo até agora... subidas e descidas amenas... mais 20Km e estava em Cocais e seus enormes coqueiros... pra variar lotados de papagaios... Subindo a Serra dos Cocais cheguei em Barão de Cocais, cidade com boa estrutura, já que possui uma subestação da CEMIG. a mina Brucutu da VALE e a White Martins. Impressionante, mas nesses trechos de terra quase não se vê gente, carros, nada... sou eu, a poderosa e muita terra... Assim que saí de Barão de Cocais, já no caminho para Santa Bárbara comecei a notar algo diferente na paisagem... um paredão de pedra se destacava... fui chegando mais perto e pude ver que eram as montanhas do Parque Estadual e Santuário do Caraça. Não sabia, mas um missionário português fundou o santuário alí naquele lugar, juntamente com um colégio secundarista. Com o passar dos anos o colégio ganhou notoreidade e recebeu ilustres como o Presidente Afonso Pena. Quanto mais perto chegava do Parque, mais perto queria chegar... então saí da rota e fui conhecer esse santuário de perto... o lugar é realmente incrível... nos finais de tarde os padres alimentam quase que na boca alguns lobos-guarás que passam por lá todos os dias... é um lugar que vale a pena conhecer... uma das vistas mais bonitas até aqui. Do Parque me deram uma dica que existia uma trilha que saía direto em Catas Altas... realmente era uma trilha.. que mal passava a bicicleta... hehe... mas empurrando daqui e de lá consegui chegar. Catas Altas é surpreendentemente bonita... encrustrada nas montanhas do Caraça, várias pousadas e tem até restaurante... algo que há 3 dias não via... comi costela com canjiquinha... é bão por demais da conta!!! Se tudo correr bem, espero chegar amanhã em Ouro Preto e tirar um dia de turista normal (hehe!!!) por lá. Forte abraço a todos e continuem mandando recados!

Na terra dos Tropeiros

Trecho: Itambé do Mato Dentro - Ipoema Distância: 35Km Subidas: 750m Como o dia anterior foi de matar, resolvi pegar mais leve, já que estava 1 dia adiantado do planejado. Olhando meus mapas e tal, vi que o distrito de Ipoema (pertencente a cidade de Itabira) é a cidade mineira do Tropeiro. Pra quem não sabe, os tropeiros foram seres fundamentais para o desenvolvimento do Brasil como nação. Eles eram praticamente nômades, que percorriam distâncias enormes com tropas de mulas, levando mercadorias importadas (da Coroa Portuguesa por exemplo) e bens de primeira necessidade às cidades mineiras e populações mais afastadas. Na verdade faziam mais do que isso, eles levavam correspondências e também novidades do mundo para essas populações... imagine quanto tempo não demorava para essas populações ficarem sabendo que o Rei tinha morrido!!! Bem, saí de Itambé com destinho a Ipoema, passando pelo povoado de Senhora do Carmo. Trecho muito bonito que cruzava a Serra da Lapinha. Estou começando a concluir que não existe plano horizontal em Minas... ou eu estou torrando as pernas nas subidas, ou torrando os freios na descida... com um fina garoa e lama, tudo fica perfeito... hehe... Até o momento, não passei por nenhum trecho de asfalto... tudo o que mais queria estou conseguindo, passar pelos povoados mais isolados, dependentes da natureza pra tudo e fazer colegas em quase todos eles... Ontem, cheguei em Ipoema e não achava pousada. Celular, o que que isso moço? hehe... Até que vi uma senhora arrancando uma placa de frente de uma casa colonial... e aí perguntei: Aí é uma pousada? A mulher respondeu: É sim, mas o dono vai pra BH e vou ter que fechar porque não fica ninguém aqui! Expliquei minha situação e algo impensável aconteceu... ela me deu a chave da pousada, falou que eu podia consumir tudo que tava na geladeira, assistir TV, DVD, fazer o que quisesse que no outro dia voltaria as 7am pra fazer o café e receber a diária... eu fiquei impressionado mas aceitei... um cheque em branco foi dado para um desconhecido, foi o que pensei na hora... mas hoje entendo que essas pessoas não tem os mesmos vícios e medos que nós temos... agradeci muito a Dona Ica por isso e prometi que colocaria sua foto na Internet como recompensa... hehe... (foto ao lado)
O museu do Tropeiro em Ipoema é muito simples mas muito bonito... valeu a pena... Inté!!! (tô aprendendo o mineirês)

Serra do Cipó e suas Subidas Infernais...

Trecho: Conceição do Mato Dentro - Itambé do Mato Dentro Distância: 65Km Subidas Acumuladas: 1700m Pessoal, primeiramente valeu pelos comentários, que legal que tá!!! Segundo, desculpe pela falta de atualização mas estou nas entranhas da Estrada Real, onde o tempo parou completamente!!! Que bom! Bem, na quarta-feira saí da bonita Conceição do Mato Dentro com destino a Itambé, também do Mato Dentro. Saí feliz da vida, porque sabia que iria margear o Parque Nacional da Serra do Cipó. Naquele dia fez muito sol, depois de muitos dias de chuva e somando o fato do Parque estar praticamente deserto por ser dia de semana, posso dizer que adentrei num ciclo-safari... hehe... vi muitos, muitos bichos... papagaio, tucano, siriema chegavam a 1 metro de distância... fugi de um porco do mato (nunca tinha visto na minha vida mas deu medo) com uns 6 filhotes... e quase, mas por muito pouco não atropelo um tatu que atravessava a estrada no meio de um downhill fenomenal!!! Foram 30 quilômetros de risadas e passeio por meio da Serra do Cipó praticamente exclusiva pra mim.
Depois do quilômetro 30, passei pelo povoado de Morro do Pilar e daí em diante... comecei a me afastar do Parque e subir, subir, subir.... saí de 600m e fui até 1200m em duas subidas infinitas... acabou a água, a comida e passei 60Km sem encontrar nenhum ser humano... nenhum mesmo... nem gado tinha no caminho... quando a subida fazia curva, torcia pra que fosse o fim dela... ledo engano... a subida aqui em Minas faz até curva... hehe... quando finalmente cheguei no topo, olhei do lado e vi a Serra do Cipó inteira... estava do lado oposto e via todo o canyon do Travessão... o mais bonito que já vi em toda a minha vida. Eu não conseguia parar de olhar pra aquilo... tava dividindo um fio de água com 2 siriemas mas tava feliz demais pra ver que as siriemas tavam na verdade comendo girinos (hehe... filhote de sapo)... pra falar a verdade a sede era tanta que podia estar a mãe sapo lá que eu ia beber do mesmo jeito... foi muito legal! Tão legal que acabei esquecendo da hora e quando olhei o relógio já eram 6pm e tive que ligar minhas lanternas e pedalar o máximo possível pra chegar em Itambé logo... cheguei quebrado, moído, arrumei uma "pousada" e uma janta no fogão a lenha e depois apaguei... Nunca vou esquecer aquela vista... e muito menos aquele frango com quiabo da janta... hehe Forte abraço

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Embaixo da chuva, por cima da lama

Trecho: Serro - Conceição do Mato Dentro Distância: 84Km Variação de Altitude: 1000m Status: Ok (Poderosa precisa de revisão de freio e câmbio, mas termino isso hoje). Acordei bem disposto hoje. Olhei pela janela e o mundo tava caindo. Chovia muito e já imaginei como seria meu dia. Ficar dormindo, nem pensar. Tomei o café e saí sem pensar muito. Deixei a poderosa prontinha e saímos sob uma chuva de molhar até a alma. Andei uns 2Km e quando olho pra frente uma fila de uns 10 carros. Tava todo mundo isolado em Serro porque a estrada de terra tava intransitável! Aprendi hoje que quando um mineiro diz que não dá pra passar, significa que só se passa de trator, cavalo ou a pé. Quando perguntei aos motoristas se aquele era o caminho pra Itapanhoacanga, eles começaram a rir e falaram que era melhor desistir que hoje não ia dar. Mas sabia que se quisesse moleza tinha ficado em casa, então coloquei o capacete e segui em frente. Tinha tanta lama... hehe... tanta lama que tinha hora que dava risada sozinho da minha situação... eu, com lama até no capacete, tirando com a mão um bolo de lama e pedra a cada 5 minutos que juntava entre a roda e o freio... sem câmbio, sem freio... num empurra-bike violento... Assim fiquei umas 5 horas até chegar em Itapanhoacanga. Lá me senti o Ronaldinho Gaúcho... quando estava chegando... um extraterrestre com lama até no ... lá... capacete, óculos, montado numa lama ambulante fui recebido por umas 20 crianças que saíam da escola... gritavam, corriam em volta, pulavam de alegria... foi muito legal... acho que mais pra mim do que pra eles...hehe... Contei de onde tava vindo... expliquei que eles ainda são pequenos pra fazer isso ... etc... ficamos uns 40 minutos conversando enquanto lavava a poderosa na escola deles. Ao invés de ficar por lá conforme planejado, resolvi continuar até Conceição do Mato Dentro, totalizando 84Km no mesmo dia e andando 2 dias do plano em um só... afinal de contas, ferrado, ferrado e meio... hehe... Sei que tenho que diminuir a média de rodagem por dia, já que são muitos dias... mas estou feliz em já ter percorrido mais de 10% do percurso... Pra compensar, amanhã vou rodar menos até Morro do Pilar (morro!!!! pqp), passando por dentro do Parque Nacional da Serra do Cipó. Ah, descobri a palavra chave do mineirês: Aô!. Com um Aô! você diz bom dia, boa tarde, boa noite, agradece, reclama e pede até a conta do restaurante... hehe... dica importante... Cicloturistas: Torçam pra não chover. Além disso, levem muita água porque não têm lugares para comprar no caminho. Outra coisa, fiquem muito atentos já que o trecho não é muito bem demarcado pelos marcos da ER. Grande abraço e valeu pelos comentários... é sempre uma força a mais nas subidas....

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Trecho: Diamantina - Serro
Distância: 66Km
Variação de Altitude: 1450m
Status: Ok (só um pneu furado mas tudo resolvido)
Todo mundo sabe que o ponto mais alto da Terra é o monte Everest... mas se alguém me perguntasse isso hoje eu responderia sem medo que é a cidade mineira de Serro. Hoje eu subi, subi... no começo tava contando as subidas mas depois desisti... hehe... o altímetro marcou mais de 1400m de subida acumulada... em compensação a paisagem daqui é sensacional.
Saí de Diamantina depois de tomar um café mineiro daqueles (obrigado Seu Ricardo de Dona Carmen na foto ao lado pela hospedagem e pela cachaça!!!) e segui em direção ao Parque do Itambé. Nunca soube, mas entre Diamantina e Serro nasce o rio Jequitinhonha, que atravessa todo o parque e também todo o famoso Vale do Jequitinhonha pra desaguar na Bahia. É um rio fundamental pra população da região, que é a mais pobre e árida de todo o sudeste. A estrada de terra margeava o canion do Jequitinhonha (ver foto ao lado), mostrando uma paisagem que lembra muito os cânions da Chapada dos Veadeiros em Goiás... ao lado do caniôn sempre aparecia o Morro do Itambé com seus 2000m de altitude. Realmente muito bonito. No caminho sempre dá tempo pra conversar com o pessoal local, de pouca instrução geralmente mas com um conhecimento de vida impressionante!!!
A cidade de Serro não é tão bonita como Diamantina, mas também possui casarões de mais de 300 anos.
Sigo o plano e amanhã rodo mais 50Km em estrada de terra.
Cicloturistas: Preparem as panturrilhas e levem comida.. o trecho é duro e 100% de terra. Não esqueçam de câmera reserva porque tem muita pedra no caminho... até o povoado de Vau até que é tranquilo, de Vau até Serro... muitas subidas, pra todos os gostos... O pessoal de Milho Verde é muito gente fina. Precisando de qualquer coisa procurem pelo Sr. Moraes que terá prazer em ajudá-los em sua pousada. Durante 66Km de paisagens muito bonitas.
Grande abraço.

domingo, 16 de novembro de 2008

A "Poderosa"

Vindo pra Diamantina me lembrei do filme "Diários de Motocicleta" em que Che e seu fiel amigo decidem percorrer a estrada Panamericana em sua motocicleta denominada "Poderosa". Devida as proporções, decidi apelidar minha bike de poderosa, já que dependo quase que exclusivamente dela pra concluir o percurso.
Nesse sábado enrrolei a poderosa num papelão de primeira linha (hehehe.... ver foto) e atravessei o terminal tietê duas vezes: uma pra pagar a taxa de embarque da bicicleta e outra pra eu poder ir ao banheiro... hehe... já imaginou entrar no banheiro com uma bike... hehe... foi engraçado embora tenha ocupado todo o mictório da rodoviária...hehe
Cheguei hoje de manhã em Diamantina... tudo ok, poderosa zerada e já saí pra andar. A cidade é muito show, festivo (ver foto ao lado), muita história e paisagem fantástica da Serra do Espinhaço. Aqui se desenrolou uma das mais famosas histórias do Brasil Colonial, a histórica de Chica da Silva, escrava alforriada que foi amante do desembargador mais famoso da região. Outro cidadão ilustre daqui é JK, considerado herói de Diamantina.

Hoje percebi que faltou uma coisa em minha preparação: praticar o mineirês!!! Pqp... "conversei" uma hora com o dono da pousada aqui e não entendi nada... no restaurante, na rua, em qualquer lugar... ainda não consigo entender o que esse pessoal fala... mas até o final da trip descubro.

Amanhã sigo em direção ao povoado de Serro (~60Km) e depois Itapanhoacanga (~50Km), lugares onde provavelmente ficarei 100% off-line (graças a Deus!!! hehe).

Cicloturistas: a empresa Gontijo faz a linha SP-Diamantina e cobra R$30,00 para o transporte. É importante proteger a bike porque de BH até a cidade de Curvelo é um buraco atrás do outro.
Grande abraço a todos!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A parte mais importante de uma aventura é largar. Muito mais importante que completar o percurso, dar o primeiro passo é distanciar as conquistas reais dos nossos sonhos. Tá tudo preparado. Agora é torcer pra que não aconteça nenhum imprevisto mais sério (quebra da bike, queda grave, roubo, etc...) e pedalar tudo que der. Vou tentar atualizar o máximo possível o blog, mas sei que passarei por muitos quilômetros sem encontrar vilarejos ou cidades com estrutura pra isso, principalmente nos primeiros 400 Km. Saio no sábado com destino a Diamantina. Dezembro tô de volta. Grande abraço. Luis Marcelo / Lorena